Os vários povos eslavos das Balcãs, uniram-se num novo Estado, para que juntos se tornassem uma nação mais forte.
A Jugoslávia passou por 3 fases:
- A Primeira Jugoslávia, que começou por ser o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslavos, foi formado pela Sérvia, Croácia e Eslovénia, no pós-Primeira Guerra Mundial, em 1918, e era governado por uma monarquia, cuja capital era Belgrado, na Sérvia.
- A Segunda Jugoslávia foi reconstruída depois da Segunda Guerra Mundial e era um Estado comunista, constituído por 6 repúblicas, cada uma com o seu próprio governo de poderes iguais.
- "A Terceira Jugoslávia" foi uma união política entre a Sérvia e o Montenegro.
A Jugoslávia desintegrou-se, em 1995, com muito derramamento de sangue.
Contexto Histórico
Para entender o motivo da formação da Jugoslávia e os seus conflitos é necessário entender a história dos povos eslavos do sul.
Os eslavos do sul são descendentes dos mesmos antepassados e falam línguas relacionadas, mas têm histórias e religiões diferentes.
Tudo começa quando as Balcãs são invadidas e ocupadas por potências estrangeiras durante séculos, moldando as suas culturas e religiões.
- Os Sérvios tornam-se cristãos ortodoxos, depois de séculos de domínio medieval do Império Bizantino. No final do século 14, a Sérvia é ocupada pelo Império Turco-Otomano, durante aprox. 400 anos até ao século 19.
- Os Croatas tornaram-se cristãos católicos depois de aprox. 200 sob domínio dos Francos e quase 400 anos do Império Austríaco até ao século 20. No final do século 15, o sul e este da Croácia, também, estiveram aprox. 300 anos sob domínio do Império Otomanos.
- Os Eslovenos tornam-se cristãos católicos, depois de séculos sob domínio Franco (aprox. 500 anos) e austríaco até ao século 20 (aprox. 500 anos).
- Os Bósnios, fizeram parte do Reino da Croácia e depois da Sérvia, na Idade Média. Os seus antepassados converteram-se ao Islamismo, durante os aprox. 400 anos de ocupação Otomana, até ao séc 20. A maioria Bósnia é muçulmana.
- Os Montenegrinos tornaram-se cristãos ortodoxos depois de séculos medievais de influência do Império Bizantino. Devido à forte influência veneziana, em algumas regiões de Montenegro, existe uma minoria significativa de católicos. Faziam parte do Reino da Sérvia, quando foram ocupados quase 400 anos pelo Império Otomano, até ao séc 20. Fizeram, também, parte da Sérvia depois da Primeira Guerra Mundial.
- Os Macedónios do Norte são católicos ortodoxos, fruto de séculos medievais de influência do Império Bizantino. Faziam parte do Reino da Sérvia, antes da ocupação Otomana que durou aprox. 500 anos, até ao séc 20.
- O Kosovo alberga um grupo não-eslavo de Albaneses. O Kosovo fazia parte do Reino da Sérvia e esteve, igualmente, aprox. 400 anos sob o domínio do Império Otomano, até ao séc 20.
O Estado Eslavo do Sul
Quando o Império Austro-Húngaro caiu, no final da Primeira Guerra Mundial, vários reinos eslavos tornam-se independentes. Entre eles, a Croácia e Eslovénia.
Depois de séculos a serem governados por potências estrangeiras, os eslavos do sul começaram a perceber que a sua história partilhada é mais importante que as suas diferenças.
Reconhecendo que um pequeno país teria mais dificuldade em sobreviver sozinho, e que poderia ser absolvido, mais uma vez, por uma grande potência não-eslava, os eslavos do sul decidem unir-se. Em 1918, formam o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos.
A Sérvia foi um dos maiores apoiantes da formação da Nação Sul-Eslava.
Os Croatas exigem mais autonomia, que seja um estado federal, em vez de unitário. Em 1929, o rei Alexandre I suspende o parlamento e inicia uma ditadura real e passa a ser o Reino da Jugoslávia (Terra dos Eslavos do Sul).
Mas esta nova união é frágil. Desde o início que as diversas etnias lutaram pelo poder da nova Jugoslávia.
Os principais rivais eram os Sérvios e os Croatas, dois povos eslavos com línguas semelhantes mas com histórias muito diferentes.
O cristianismo ortodoxo dos Sérvios foi crucial para manter viva a sua identidade nacional durante quase 400 anos de ocupação Turca-Otomana.
Das nações que formaram a Jugoslávia, os Sérvios foram os únicos que se libertaram do domínio estrangeiro e estabeleceram um Estado independente, no século 19.
Já os Croatas passaram séculos sob o domínio e influência do Império austríaco e o seu catolicismo e perspectiva centro-europeia foram importantes na formação da sua identidade.
Os Croatas ressentiam-se pelo facto do Estado Jugoslávo ser em grande parte a Sérvia, com um rei e um exército sérvios e um sistema político dominado pelos Sérvios. O que gerou conflitos.
Quando a Segunda Guerra Mundial chegou à Jugoslávia, o reino já estava à beira do colapso.
Segunda Guerra Mundial
Apesar da Jugoslávia ser neutra, os alemães nazis bombardearam Belgrado a 6 de Abril de 1941, seguindo-se de uma invasão terrestre. 11 dias depois, a Jugoslávia rende-se. E os nazis desmembram a Jugoslávia:
- Grande parte da Croácia e da Bósnia-Herzegovina tornou-se o Estado da Croácia, que era governado por um governo fantoche nazi, chamado Ustaše.
- A Eslovénia foi dividida entre a Alemanha nazi, a Itália fascista e a Hungria aliada nazi.
- Grande parte da Sérvia foi ocupada pela Alemanha nazi.
- O Montenegro foi incorporado na Itália fascista de Mussolini.
- O Norte da Macedónia foi ocupado pela Bulgaria aliada nazi.
De 1941 a 1945, centenas de milhares de Sérvios que viviam na Croácia e na Bósnia foram massacrados pelos Croatas - Ustaše. Considerada a primeira limpeza étnica nas Balcãs.
Morreram mais de um milhão de Jugoslavos, mais de metade às mãos uns dos outros.
A Resistência Eslava
Entretanto, surgiram dois grupos de resistência, com o objectivo comum de recuperar uma Jugoslávia independente, mas com ideias diferentes sobre como seria essa nação.
Nas montanhas orientais da Jugoslávia surgiram os Četniks - um grupo paramilitar, composto, maioritariamente, por homens Sérvios que lutavam para restabelecer uma monarquia governada por Sérvios.
O segundo grupo de resistência - que combatia os Četniks e os Ustaše - era o Exército Partidário, liderado por Josip Broz, mais conhecido por Tito, que tinha como objectivo libertar a Jugoslávia e torná-la num Estado comunista.
Após anos de lutas de guerrilha entre estes três grupos, os guerrilheiros saem vitoriosos, em 1945. E, enquanto o resto da Europa de Leste estava a ser "libertada" pelos soviéticos, os Jugoslavos recuperaram eles próprios a sua independência. As tropas soviéticas passaram em perseguição dos nazis, mas não foram autorizadas a ficar.
A Jugoslávia de Tito
Presidente do Partido Comunista e herói de guerra, Tito tinha mãe Eslovena, pai Croata, uma mulher Sérvia e uma casa em Belgrado. Tito era um verdadeiro Jugoslavo.
Após a Segunda Guerra Mundial, Tito reconstruiu a Jugoslávia como a República Federativa e Socialista da Jugoslávia, constituída por seis repúblicas, de poderes iguais, cada uma com o seu próprio parlamento e presidente e 2 regiões autónomas.
Seis Republicas:
- Sérvia
- Eslovénia
- Croácia
- Montenegro (que até esta altura pertencia à Sérvia)
- Bósnia-Herzegovina
- Macedónia do Norte (que até esta altura pertencia à Sérvia)
Duas regiões autónomas(dentro da Sérvia):
- o Kosovo (que até esta altura pertencia à Sérvia)
- e a Voivodina (que até esta altura pertencia à Sérvia)
Tito criou, na Sérvia, duas províncias autónomas, cada uma dominada por uma etnia minoritária: os albaneses no Kosovo e os húngaros na Voivodina, subordinadas a Belgrado, mas com algum grau de independência. O que permitiu que a cultura e a identidade albanesa se fortalecessem.
A Jugoslávia de Tito era comunista, mas não era comunismo soviético. Apesar da forte pressão de Moscovo, Tito rompeu com Estaline em 1948 e recusou aliar-se aos soviéticos.
A visão de Tito era a de uma "terceira via", na qual a Jugoslávia podia trabalhar com o Oriente e o Ocidente sem ser dominada por nenhum deles. A Jugoslávia era o mais livre dos Estados comunistas.
A Violenta Desintegração da Jugoslávia
Com a morte de Tito, em 1980, as seis repúblicas da Jugoslávia ganham mais autonomia, com uma presidência rotativa. Mas não tardou muito para que a frágil união que Tito mantinha começasse a ruir.
O Kosovo
A ruptura começou no final de 1980, com conflitos na província autónoma do Kosovo, entre a minoria sérvia e a maioria albanesa.
Os sérvios consideram o Kosovo o berço da sua civilização - a terra medieval dos seus mosteiros, sítios históricos mais importantes, onde aconteceu a épica Batalha do Kosovo de 1389, que se tornou um símbolo da identidade nacional sérvia.
Após a derrota nesta batalha, os Sérvios tiveram que abandonar a sua terra ancestral- o Kosovo- e mudarem a sua capital para o norte, para Belgrado, fugindo dos Otomanos. A perda desta terra ainda, hoje, ofende profundamente muitos Sérvios.
Sob o domínio Otomano, o Kosovo foi aberto à colonização de Albaneses (muçulmanos), que rapidamente passaram a ser maioria da população. E os poucos sérvios que ainda lá viviam sentiam-se oprimidos e abusados pela liderança albanesa.
No século 20, o Kosovo voltou a ser incorporado na Sérvia, mas ao longo dos anos, a população albanesa tinha aumentado massivamente, enquanto a presença sérvia tinha diminuindo. Hoje, 95% da população do Kosovo é albanesa. Albaneses que vivem no Kosovo, tendo o seu país - a Albânia, mesmo ao lado.
O político Sérvio Slobodan Milošević começou a fazer discursos, no Kosovo, prometendo que a Sérvia ajudaria os seus irmãos a recuperar o domínio sobre o Kosovo.
Com estas visitas, Milošević inflamou o nacionalismo dos sérvios do Kosovo, que perdiam influência sobre um território historicamente significativo. Ao mesmo tempo, Milošević, preparava o terreno para a sua ascensão à presidência sérvia.
Quando a Sérvia, liderada por Milošević, retira a autonomia e anexa o Kosovo, as outras repúblicas (principalmente a Eslovénia e a Croácia) ficam preocupadas. A Eslovénia propõe a Jugoslávia seguir o modelo de cantões federados da Suíça. Mas os países que queriam total autonomia rejeitaram.
Quando o comunismo colapsa, as grandes potências europeias (Reino Unido, Alemanha, Rússia e França) começam a apoiar grupos nacionalistas em cada país, fornecendo armas e treinamento militar. O que intensifica os conflitos. As repúblicas da Jugoslávia começam a exigir a independência.
A Saída da Eslovénia - Conflito da Eslovénia
A Eslovénia fecha as suas fronteiras e declara a independência da Jugoslávia, a 25 de Junho de 1991.
Belgrado tentou evitar, enviando tropas jugoslávas. Após 10 dias de combates, Belgrado cedeu.
A Saída da Croácia
Embora o exército jugoslavo tenha tentado impedir a independência da Eslovénia, a principal preocupação dos Sérvios era a Croácia.
Vivia na Croácia uma minoria sérvia de 600.000 habitantes, descendentes de Sérvios que tinham fugido do domínio Otomano, séculos antes.
Com a memória do massacre croata sobre os Sérvios durante a Segunda Guerra Mundial, os Sérvios não estavam dispostos a voltar a viver numa Croácia independente.
Por sua vez, os Croatas sentiam que a minoria Sérvia da Croácia tinha gozado de privilégios especiais durante o comunismo.
Apoiados pelo exército jugoslavo e pela própria Sérvia, os Sérvios-Croatas revoltaram-se armados.
Quando a Croácia declarou a sua independência a 25 de Junho de 1991 (o mesmo dia da Eslovénia), o país já estava envolvido no início de uma guerra sangrenta.
Os Sérvios derrotam os Croatas e declaram a sua independência da Croácia e chamam a este território - cerca de um quarto da Croácia - República Sérvia da Krajina" (krajina significa "fronteira").
Ao mesmo tempo, a Croácia, também, se envolve na guerra da independência da Bósnia-Herzegovina.
A ONU cria quatro áreas protegidas e enviam soldados para manterem croatas e sérvios separados.
A Croácia promete recapturar estas regiões. Em 1995, os Croatas vencem os Sérvios.
Dos 600.000 sérvios que viviam na Croácia, metade foi expulsa, e mais de 6.000 morreram na guerra. Hoje, menos de 200 mil sérvios vivem na Croácia.
Saída do Norte da Macedónia
Seguindo o exemplo da Eslovénia e Croácia, a 8 de setembro de 1991, a Macedónia do Norte realiza um referendo nacional pela independência. 95% da população vota por um Estado independente.
A Outubro de 1991, a Macedónia do Norte proclama a sua independência e sai pacificamente da Jugoslávia.
A Saída da Bósnia - Conflito da Bósnia
Na Bósnia, três nacionalidades viviam em relativa harmonia, em comunidades mistas:
- os Bósnios muçulmanos eram 44% da população
- os Sérvios eram 32%
- e os Croatas eram 17%.
Os Sérvios-bósnios criam o seu próprio Estado - a República do Povo Sérvio e boicotam a votação.
Novamente com o apoio do exército jugoslavo, iniciam uma luta pelo território.
Os Sérvios massacram e expulsam Croatas e Bósnios para tornar o território e tornar as regiões puramente sérvias. O que levou a uma grande vaga de refugiados para países europeus.
No início, os Bósnios e os Croatas da Bósnia uniram-se para afastar os Sérvios. Mas, pouco depois, os Croatas, com a ajuda do exército croata, tomam grande parte do oeste da Bósnia e formam o seu próprio Estado - a República Croata da Herzeg-Bósnia e proclamam-se como uma região autónoma.
A guerra faz-se, agora, entre três grupos, que se atacam mutualmente com brutalidade.
A Croácia conspirou com a Sérvia para dividir a Bósnia. No entanto, a Croácia escapou com muito menos censura internacional.
Tanto a Sérvia como a Croácia reivindicaram a Bósnia-Herzegovina como parte do seu próprio território histórico, pois pertenceu ao Reino da Sérvia e também ao Reino da Croácia.
Em Agosto de 1995, depois de os Sérvios se recusarem a cumprir um ultimato da ONU, a ONU bombardeia as posições sérvias da Bósnia durante 3 semanas e envia uma ofensiva terrestre.
Com a economia da Sérvia prejudicada pelas sanções comerciais da ONU e as suas forças militares sob ataque na Bósnia após três anos de guerra, o líder sérvio Milosevic aceita iniciar conversações. Que resultaram na criação de uma Bósnia dividida entre uma Federação da Bósnia e Herzegovina (bósnios e croatas) e uma República Srpska (sérvios) - O Acordo de Dayton.
Embora este acordo tenha ajudado a pôr fim à guerra, criou também uma nação com um sistema de governo dos mais complexos do mundo, prejudicando ainda mais esta região empobrecida e devastada pela guerra.
A Saída do Kosovo - Conflito do Kosovo
Após Milošević anexar o Kosovo, a instabilidade aumentou, e o nacionalismo tanto sérvio quanto albanês intensificou-se.
Os Albaneses começam a organizar-se. Formam o Exército de Libertação do Kosovo e, em 1998, atacam as forças sérvias, dando inicio à guerra de Albaneses e Sérvios pelo Kosovo.
A OTAN decide intervir em Março de 1999, sem aprovação da ONU, e durante mais de 2 meses (78 dias), bombardeia alvos estratégicos sérvios, na Sérvia e no Kosovo. Em Junho de 1999, o governo sérvio cedeu e retirou as suas tropas do Kosovo.
Em 2008, o Kosovo declara a sua independência, contestada pela Sérvia.
A Jugoslávia desaparece do mapa da Europa, após 73 anos de existência, e é substituída por uma união estatal chamada Sérvia e Montenegro, os nomes das duas repúblicas restantes.
A Saída de Montenegro
No entanto, Montenegro faz um referendo a 21 de Maio de 2006 e torna-se independente a 3 de Junho de 2006, por uma pequena margem de 5%.
A população estava profundamente dividida. O Montenegro e a Sérvia são dois povos com fortes ligações históricas e culturais.
Situação em 2025
As guerras civis da Jugoslávia começaram em 1980 e terminaram 19 anos depois. Mas a tensão ainda existe em toda a antiga Jugoslávia.
Croatas e Eslovenos continuam a disputas sobre as fronteiras, a Bósnia-Herzegovina sofre com a instabilidade e ineficiência de governos autónomos, tensões entre os Norte-Macedónios e os Bósnios do Norte da Macedónia, e os Sérvios continuam a não reconhecer a independência do Kosovo e ainda mantêm o desejo de recuperar o Kosovo.
A diversidade étnica e religiosa da região está na base dos conflitos: a luta pela identidade nacional e a luta pelos direitos das minorias foi e continua a ser grande fonte de tensões nas Balcãs.
Mas a interferência das grandes potências, a disputa política por poder, e o controlo de territórios e recursos naturais contribuíram igualmente.