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Lendas de Portugal- A Lenda de D. Pedro e Inês de Castro

A Lenda de D. Pedro e Inês de Castro


Texto e imagem de Jorge Bastos em Portugalthings.com


 "Pedro e Inês… amor, tragédia, mito, lenda, realidade… a história de hoje já foi contada tantas vezes que é difícil de distinguir o que é ficção e o que é realidade. Vamos tentar esclarecer o que se sabe que realmente aconteceu, onde há dúvidas e o que é mesmo lenda!

Devido às intrigas familiares, vinganças familiares e amores proibidos, a história de Pedro e Inês é muitas vezes comparada à de Romeu e Julieta, mas ao contrário do conto de Shakespeare, este é bem real e acabou por influenciar a História de Portugal! Talvez por isso tenha ficado tão marcado no imaginário português. Mas vamos então à nossa história.

Quem são Pedro e Inês

Inês de Castro era uma nobre galega, nascida em 1320 (ou 1325), filha de D. Pedro Fernandes de Castro um dos mais poderosos homens do rei de Castela. Vinha portanto de uma família importante e com ambições, tanto em Portugal como em Castela. Chegou a Portugal como aia de D. Constança Manuel, noiva de Pedro I, o infante real de Portugal.

Pedro, filho de D. Afonso IV, e futuro rei de Portugal casou-se em 1339 com D. Constança Manuel. Como era norma na altura, este foi um casamento de conveniência, e seria por Inês de Castro que se iria apaixonar. Pedro, o cru, o cruel, o Justiceiro, foi na realidade um excelente governante e que o seu reinado foi o único no século XIV sem guerra e marcado com prosperidade financeira. Nas suas crónicas Fernão Lopes diz mesmo que “que taes dez annos nunca houve em Portugal como estes que reinara el Rei Dom Pedro

  • Curiosidade: Inês de Castro era bisneta ilegítima de D. Sancho de Castela, pai de D. Beatriz de Castela que era mãe de D. Pedro. Assim, Inês de Castro era prima em 3º grau de D. Pedro.
O Romance entre Pedro e Inês

O romance terá começado praticamente imediato e rapidamente começou a ser falado e mal visto. Numa tentativa dificultar o romance, D. Constança fez de Inês de Castro madrinha de um dos filhos. Hoje em dia isto pode parecer muito estranho, mas à época a Madrinha era praticamente familia, e tornaria a relação entre Pedro e Inês incestuosa. Paralelamente, mas já em 1344 o Rei D. Afonso IV descobre o relacionamento, e exila Inês de Castro no Castelo de Albuquerque.

Em 1345, D. Constança morre logo após o nascimento de D. Fernando (futuro rei de Portugal) e D. Pedro manda Inês de Castro voltar do exílio e muda-se com ela para Coimbra. Isto causou bastante alvoroço nas cortes e não agradou nada a seu pai.

Em Coimbra, o casal vai viver para um palácio anexo ao Convento de Santa Clara-a-velha (na altura ainda não havia o novo), junto ao Mondego e à (futura) Quinta das Lágrimas. Com esta atitude Pedro e Inês assumem de vez a sua relação, causando escândalo tanto na cidade, no país e inicia-se a desavença entre o Rei e o Infante.

Durante o tempo que viveram em Coimbra o casal frequentava os jardins e matas da futura Quinta das Lágrimas. Lembramos que a Rainha Santa Isabel tinha comprado este terreno para abastecer o convento de Santa Clara e porque o lugar era bastante agradável. Entre 1346 e 1354, Inês teve 4 filhos (Afonso, Beatriz, João e Dinis) de D. Pedro, o que agravou ainda mais a situação perante a nobreza e o Rei.

  • Curiosidade: D. Pedro terá solicitado ao papa em 1351 que lhe concedesse dispensa para poder casar com Inês. Uma vez que eram primos, grau de parentesco que impedia o casamento, segundo o Direito Canónico da época, pedido este que foi negado.
A Morte de Inês de Castro

A relação entre D. Pedro e D. Inês significou também uma proximidade e influência da família Castro sobre herdeiro ao trono de Portugal, Pedro. Esta proximidade não agradava a D. Afonso IV nem à nobreza portuguesa pois temiam que os Castro quisessem tomar a coroa Portuguesa. Estes receios aumentaram com os boatos que Pedro e Inês se tinham casado, e que os filhos bastardos poderiam pretender ao trono.

Assim, pressionado pela nobreza para afastar Inês de Castro e com isso a influência dos Castro, o rei D. Afonso IV ordena a sua morte. Bem, na realidade houve um julgamento sumário em Montemor-o-velho que a condenou à morte.

Em Janeiro de 1355, aproveitando a ausência de Pedro, os carrascos (Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco) entraram pelo Paço de Santa Clara e degolaram Inês de Castro, de acordo com registo exarado no Livro da Noa, “crónica breve” elaborada pelos Frades Crúzios.

Diz a lenda que o Rei estava presente e quando chegou o momento, ficou supostamente tão emocionado por ver os netos que cancelou a ordem. No entanto, os assassinos convenceram-no e este saindo da sala terá dito “façam como quiserem”!

Outra lenda diz-nos que as lágrimas derramadas pela morte de Inês criaram a fonte das Lágrimas (na quinta das Lágrimas, e que as raras algas avermelhadas que lá crescem são o seu sangue derramado.

Consequências da Morte de Inês de Castro

A reacção de D. Pedro ao assassinato de Inês de Castro foi violenta, iniciando uma revolta contra o pai e consequentemente uma guerra civil que durou meses, até que a rainha Beatriz interveio e forjou a paz entre pai e filho. No entanto, em 1357, apenas dois anos depois da morte de Inês, D. Pedro ascende ao trono de Portugal em consequência da morte de D. Afonso IV.

Casamento de Pedro e Inês

Em Junho de 1360, D. Pedro I faz a famosa declaração de Cantanhede, onde afirma ter casado em segredo com Inês de Castro alguns meses antes, em Bragança numa cerimónia religiosa celebrada pelo Deão de Braga. Apesar de não haver qualquer documento anterior, a palavra do Rei, do agora Bispo da Guarda e de uma testemunha foram suficientes para autenticar o casamento, e legitimar os filhos de Inês de Castro.

Homenagem à Rainha póstuma

Paralelamente D. Pedro I mandou construir em Alcobaça dois túmulos para si e para sua amada. Em 1361 mandou transladar os restos mortais de Inês de Castro do Convento de Santa Clara para o Mosteiro de Alcobaça, num cortejo fúnebre digno de uma rainha e que ficaria na memória do povo.

Por esta homenagem, pela declaração de Cantanhede e por todas as lendas que surgiram, se diz que Inês de Castro é a primeira e única rainha póstuma de Portugal. Ou como diz Camões, “que depois de ser morta foi rainha”.

A famosíssima cerimónia de coroação e beija-mão (imposto à corte e a todo o país) à rainha D. Inês de Castro morta, nunca terá acontecido, e por isso é mais uma lenda popular portuguesa – os primeiros registos surgem apenas no século XVI. Assim, apesar do cortejo funebre ser real, aquela que é provavelmente uma das imagens mais fortes da cultura popular portuguesa é apenas uma lenda. Esta lenda surge muito provavelmente em consequencia do inesquecivel cortejo funebre da rainha Ines para Alcobaça.



Túmulo de Inês de Castro no Mosteiro de Alcobaça

A Vingança de D. Pedro I

Mas a história não termina aqui, Pedro I iniciou a perseguição aos assassinos de Inês desde 1357 e em 1961 finalmente consegue apanhar 2 dos 3 carrascos, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves que tinham fugido para Castela. D. Pedro I acordou com o rei de Castela uma troca de prisioneiros que garante a recuperação dos assassinos de Inês. O terceiro fugiu para França, e nunca foi apanhado. Diz-se que Pedro o terá perdoado no final de sua vida.

A vingança de Pedro é levada a cabo nos Paços de Santarém, e com pormenores de requintada malvadez. Segundo as crónicas de Fernão Lopes, D. Pedro I terá mandado amarrar os condenados a postes e ordena que ao carrasco que lhes tire o coração pelas costas a um, e pelo peito a outro! No final terá rasgado os corações para terminar a sua vingança. 

Outra versão diz que D. Pedro “arrancou pessoalmente o coração a ambos, abrindo o peito a um e as costas ao outro ainda em vida, dizendo que homens que haviam matado uma mulher inocente não podiam ter coração.”

Finalmente, uma terceira lenda diz-nos que o ódio de D. Pedro I era tal que mandou destruir a vila de Jarmelo, a terra de Pêro Coelho, um dos assassinos de Inês. Na realidade, a vila já estava já em declínio devido às sucessivas guerras com Castela e à Peste Negra.

Tumúlos de Pedro e Inês

A homenagem final de Pedro a Inês foi feita através do seus túmulos. Pedro mandou construir 2 fabulosos túmulos, verdadeiras obras-primas do gótico português. Estes foram colocados no transepto do Mosteiro de Alcobaça. O corpo de Inês foi transladado, no cortejo digno de rainha que falamos anteriormente, enquanto Pedro se juntou em 1357.

Diz a lenda que estão frente a frente para que no dia do Juízo Final os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se possam olhar olhos nos olhos. Na realidade a posição inicial dos túmulos seria lado a lado, tendo sido mudados em 1780 para a posição frente a frente, e em 1956 para a posição actual com D. Pedro no transepto sul e D. Inês no transepto norte.

  • Curiosidade: D. João I, Mestre de Avis, e fundador desta dinastia é filho bastardo de D. Pedro. Não com sua 1ª mulher, D. Constança Manuel, nem com sua amada, segunda mulher e rainha póstuma de Portugal, Inês de Castro, mas sim com Teresa Lourenço. D. João I, nasceu em 1357, 2 anos após a morte de Inês de Castro, mas sendo já Pedro I, o rei de Portugal."
Texto e imagem de Jorge Bastos em Portugalthings.com


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